O tipo mais comum de violência doméstica é psicológico. Existem abusadores muito mais cautelosos na sociedade do que tiranos domésticos sem freios. Essas “pessoas caladas” escondem habilmente sua verdadeira face, e as vítimas muitas vezes não suspeitam por anos que vivem sob o mesmo teto com uma pessoa tóxica. Quanto dano faz o abuso psicológico? Como isso se manifesta? Existe alguma esperança de que a pessoa que o pratica queira e seja capaz de mudar?
Por que a violência psicológica é perigosa?
Autoconfiança abalada, medos, complexos, humor deprimido até depressão – essas são as consequências da violência “incruenta” para a vítima. As mesmas são bastante comparáveis aos danos causados, por exemplo, por espancamentos. Os especialistas alertam que o abuso psicológico é tão destrutivo quanto o abuso físico. Só as mulheres habituadas às zombarias direitas ou veladas, aos insultos, à humilhação, à negligência, à desvalorização ignoram os avisos e não percebem a gravidade da situação. Ao compartilhar suas histórias, as mulheres costumam rir e brincar sobre estas situações. É desta forma que se manifesta a proteção psicológica naquelas pessoas que não estão preparadas para procurar uma saída desta situação. A mulher compartilhou suas emoções, despejou a tensão e está novamente pronta para suportar as farpas daquele que anseia pelo poder sobre ela.
Como reconhecer um tirano psicológico?
No início do relacionamento, os tiranos esforçam-se muito para atrair a sua futura vítima. Charme natural, grandes gestos, elogios alucinantes do “cavaleiro” baixam a guarda da mulher, e ela não percebe como rápido perdeu o controle sobre a sua própria vida. A partir deste momento, ela começa a viver seguindo às regras instituídas por ele, e a violação destas regras é repleta de punições. O tirano não aceita desentendimentos, mesmo nas pequenas coisas, por isso é impossível chegar a um acordo com ele. Se ele exigir que a mulher coloque cinco ervilhas na sua salada, ele fará um escândalo se uma ervilha vai faltar na mesma. Ele critica as opiniões de outras pessoas que não coincidem com as suas, de forma cáustica e implacável.
Temendo a assustar a vítima, o agressor psicológico, no princípio das relações, em situações em que é natural ficar zangado e ressentido, tem calma, sorri e mantém a cabeça fria. Mas esta imagem de ficar calmo transmitida para fora na realidade é um engano, pois por dentro está furioso. Mais cedo ou mais tarde, o tirano não consegue conter a agressão – e vai explodir, derrubando toda a sua raiva acumulada sobre a mulher.
Qualquer tirano procura a desequilibrar a vítima, derrubar o chão sob seus pés, pois o motivo para tal é o desejo de ter todo o poder e assumir a posição mais forte. O estuprador psicológico frequentemente age às escondidas: estuda as fraquezas de outra pessoa, ele propositalmente as ataca. Parece que ele faz um elogio, mas na realidade está a tentar infligir o sofrimento mental. Por exemplo, a mulher tem complexos por causa do excesso de peso e, apos de comprar e vestir um novo vestido, ouve do seu marido: “O vestido é lindo, por favor não te ofendas, mas ficas ridícula nele. Na minha opinião não o deves usar mais e futuramente tens que escolher as roupas mais modestas”. Claro, por causa do elogio venenoso, a mulher murcha, e o estuprador psicológico só precisa disso.
A violência psicológica muitas vezes anda de mãos dadas com a violência econômica. Quando o homem obriga deixar o emprego, porque ganha bem, mas depois começa a controlar rigidamente as despesas da mulher, exige justificar cada cêntimo gasto e cada vez enfatiza que a mulher depende das finanças dele, desvaloriza o trabalho doméstico feito por ela – tudo isso são os sinais da violência psicológica e económica. O objetivo é sempre o mesmo – fazer a vítima sentir-se inútil e fraca.
O estuprador psicológico deseja permanecer a autoridade inabalável para a sua vítima e por isso vigia atentamente para que “competidores potenciais” (aquelas pessoas que podem abrir os olhos da mulher para a sua posição deplorável) não se aproximem dela. É por isso que ele faz o possível para evitar a comunicação dela com amigos “não confiáveis” e até mesmo parentes.
Além disso, o tirano de todas as maneiras possíveis interfere no desenvolvimento pessoal e na autorrealização da vítima. Por exemplo, não permite que a mulher obtenha o ensino superior, melhora as suas qualificações ou assuma uma posição de liderança. Mesmo contra um hobby inofensivo, ele pode protestar violentamente. Se a mulher quer aprender a dançar, ele fará tudo para a impedir de frequentar os cursos. Porque ele está firmemente convencido de que a sua parceira é movida por um desejo baixo de balançar a frente de outros homens. A simples ideia de que alguém possa ter interesse pela sua mulher é insuportável para ele.
Os psicólogos descobriram que as mulheres que estiveram acostumadas ao abuso psicológico desde a infância estão predispostas a ter relações com os tiranos “mal-humorados”. Aquelas pessoas que, desde tenra idade habituaram-se a ouvir zombarias e sofreram assédio moral (bullying) das pessoas mais importantes e relevantes da sua vida, ficaram entorpecidos ou mesmo perderam completamente a sensibilidade às agressões alheias. É por isso que essas mulheres não se ressentem e não interrompem as tentativas de destruir a sua autoestima.
Mas há uma indicação certa de que o seu parceiro é um abusador psicológico – são os seus sentimentos. Se depois de comunicar com o seu parceiro sente-se humilhada, esmagada, insegura, errada pode ter a certeza que foi submetida a abuso psicológico.
Se pode acreditar no tirano que promete mudar?
Se a vítima entendeu o problema grave que tem e começou a fazer tentativas ativas para sair do relacionamento tóxico muito provavelmente o tirano vai tentar convencer a mulher que percebeu a inadmissibilidade de seu comportamento e vai mudar. “Vamos começar a vida do zero e ser felizes!” – tais discursos são familiares a muitas mulheres que têm o azar de encontrar um estuprador psicológico no seu caminho. Entre elas há muitas que começam a hesitar e não levam os seus planos ao fim. Mas em vão. Se uma pessoa usa violência psicológica, é possível que a tenha um transtorno de personalidade: psicopatia, narcisismo, histeria, paranoia, bipolaridade. O tratamento para curar pode durar anos, mas, infelizmente, não há garantia de que será eficaz.
Outra razão para o desejo de violência psicológica “silenciosa” são os complexos psicológicos. Por vezes, o companheiro vinga-se na sua parceira porque se sente um perdedor frustrado, não tem uma profissão, não consegue sustentar financeiramente a sua família, etc. Ultrapassagem dos limites também desperta a agressão. Portanto, o homem psicologicamente estável não tolerará a traição da sua parceira. Interiorizando que não satisfez as expectativas do relacionamento tenderá a deixar a mulher em paz e assim retirar-se-á até que a situação se esclareça ou o relacionamento termina. Desta forma a sua autoestima sofrerá um impacto menor. O homem com complexos vai começar a procurar situações de vingança, humilhação não se atrevendo a sair do relacionamento, por exemplo, pelo medo de não encontrar uma nova companheira para a vida.
Como se pode ver, o ofensor também sofre. Ele precisa tanto de ajuda psicológica quanto a vítima. Não perca tempo, nem tenha ilusões, pois uma postura de salvação solidária e misericordiosa não será a solução nestas situações. As pessoas mudam muito lentamente sendo mais fácil permanecerem como estão. Serão necessários esforços concentrados e, possivelmente, muitos anos para desenvolver ou suprimir uma característica em si mesmo.
Qualquer violência pode ser explicada, mas não justificada. Os indivíduos saudáveis lidam com as suas emoções e não ultrapassam os limites. Aqueles que não são capazes de se controlar devem ser eliminados de forma definitiva da sua vida.
“Felicidade é um estado de espirito: alegre, confiante, pacifico e livre em todas as circunstâncias”
Yonge Mingyur Rinpoche